11 março 2009

A HISTÓRIA EM 3 PARTES DO HOMEM

SEM ALMA.

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Há muitos anos atrás,

na despensa de uma fazenda de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, nasceu uma criança diferente de todas as outras. Acontece que no exato momento em que ela nascia, estourara o primeiro conflito de uma dessas guerras que o homem faz, e na confusão do entra e sai de almas no paraíso, o santo responsável pelo embarque e desembarque das almas na terra se esqueceu de enviar uma praquele fim de mundo cercado por duas serras, uma pela frente, com o nome de Cabavida e a outra em um dos lados, essa não tinha nome.

Pois bem, sendo que ninguém percebeu o acontecido, o menino veio ao mundo sem a alma, uma das três partes das quais somos feitos (as outras são corpo e mente). Nascera um menino rechonchudo como todos os bebês, grande, com uns olhos cor-de-vidro-moído, a pele da cor da casca do tamarindo e com 3 dias de atraso. A negra que trabalhara como parteira (também trabalhava como benzedeira quando havia doentes de "sezão", verme ou tremedeira) quando aparou a cabeça do menino levou um susto ao perceber que ele nascia de olhos abertos, observando todos ao redor, como se fosse gente grande, sem chorar em nenhum instante, de tal forma que a mãe enquanto ainda passava pelo seu momento, acreditara estar parindo um filho já morto. E como para ela, o filho ressucitou alguns segundos depois de nascer, resolveu batizá-lo de Lázaro.

Os anos passaram, a mãe tivera outros filhos que choravam ao vir ao mundo, e aquela história foi esquecida, porque não havia nada de errado com o seu primogênito (eu esqueci de dizer que quando o menino nasceu, a mãe tinha 15 anos). Era um bom menino, ajudava o pai todos os dias no curral, depois apartava as vacas e passava o resto da tarde sentado debaixo de um pé de carambola à sombra do Cabavida, observando as coisas ao redor. Quando por acaso alguém passava perto de onde Lázaro estava sentado, o menino ia seguindo o passante, até conseguir mirar os olhos estatelados cor-de-vidro-moído dentro dos olhos da pessoa. Normalmente, se incomodado por um arrepio ou por puro instinto o passante abaixasse a cabeça, nem se atravia a olhar denovo pro lado da caramboleira e, via de regra, seguia o caminho fazendo no corpo o sinal da cruz.

Lázaro não tinha amigos e pouco conversava, até o dia em que depois de tocar os bezerros, sentou-se debaixo da caramboleira sem perceber que ali perto encontrava-se uma cobra-cipó que o cumprimentou com uma "boass tardess" depois de rastejar até o galho. Naquela tarde Lázaro conversou com a cobra-cipó até perto de anoitecer.

3 comentários:

Laka disse...

hum.... vejamos..
talvez a gente tivesse que observar um pouco mais o Lázaro para ter essa certeza =p
hehehe!

=*

Kauana Resende disse...

Me dá mas duas doses disso por favor?!

Raquel disse...

Sim, vamos observar mais este Lázaro. Conte-me mais sobre o menino.