30 outubro 2007

A vida é cheia de desventuras.
E por uma dessas que acontecem quando menos esperamos, dia desses eu acabei pisando nos meus óculos.
Sim. Foi falta de atenção. Sempre deixo os óculos do lado da cama, e exatamente nesse dia, fui abrir a janela e... ah! M-E-R-D-A!
Aconteceu assim, por simples descuido.
Uma das pernas ficou torta. O suporte para o nariz ficou mais junto do que devia.
Tentei colocar no rosto.
Fui até o espelho com uma ponta de esperança: Nada mudou. Nada mudou.
Porém, meus óculos já não eram a mesma coisa em mim.
Já não me caíam bem no rosto. O lado esquerdo estava mais inclinado do que o direito e eu agredia a armação apertando o suporte. E ele pra mim, parecia gritar não aguentando a pressão. Não. Definitivamente... não tinha mais jeito.
Tentei consertar. Afinal, óculos torto é o ícone da desilusão: o que parecia justo pra você, agora não lhe cabe mais. Por um simples descuido. De uma hora pra outra.

Empurra daqui, aperta dali, gira parafuso.
Nada. Outro eu não quero. Nunca. Isso seria traíção.
Talvez se eu tentasse pressionar um pouco mais.
Talvez ele poderia se quebrar.
Deixo estar. Levo um dia na ótica.
Mas mesmo quando ele voltar alinhado denovo, dentro de mim eu terei a certeza de que não é a mesma coisa.
Óculos quando se quebra uma vez, perde o encanto da perfeição.
Talvez seja isso... Só se conformar.
Talvez comprar uma armação nova e me esquecer da velha.
Vai ver é isso. Acho que é isso que as pessoas acabam fazendo.
Cansei de andar na contra-mão.

24 outubro 2007

Perdido nas Palavras

Certa vez me perguntaram se eu conhecia Fernando de Noronha. Não. Não, minha senhora.
Dos Fernandos, só conheço o Pessoa. E mesmo desse dito cujo, conheço pouco, porque nunca li muito.
Também não conheço Búzios. Exceto os da Madame Alzira. Que também joga Tarot e traz a pessoa amada nas suas mãos.
Nem muito menos conheço o Cabo Frio. Apenas conheço o Cabo de Guerra. Jogo infantil que eu brinco sempre com minha prima.
Ai de mim, que fui nascer num país com tantos balneáreos.
E ai de mim, que fui nascer logo longe de todos estes.
Nunca, em toda a minha vida, eu quis ser um peixe.
Desses peixes de nadadeira dorsal e opérculo a tampar-lhes as guelras.
Nunca quis.
Nem também quis ser surfista. E falar gírias como "Broto", "Bicho" e "Brother" (que aliás, começam todas com a letra "B". Serão os surfistas poetas da língua do "B"?).
Nem quis sentir a areia entre os meus dedos.
Nem as ondas a bater em minhas canelas.
Nunca. Nunquinha.
Desta vida de Exilado Marinho, restou-me apenas ser poeta.

E que eu me dê por satisfeito.