19 novembro 2013

(setor de diversões sul, DF)


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(instituto central de ciências, UnB, DF)

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Já faz tanto tempo! 

O Vinícius era um aluno totalmente regular. Regular, acho que essa é a palavra exata. Notas regulares, interesse regular, desempenho regular. Fui sua orientadora no programa de educação tutorial em 2007. Era esforçado, parece que usava a bolsa para ajudar em casa. As vezes gostava de vagabundear no Café das Letras, ali perto do restaurante, sabe? Eu o via frequentemente ali junto de um tipinho esquisito... Bem, nada suspeito, se o senhor me entende. Por outro lado era um rapaz muito esforçado. Veio do interior e morava no entorno. Valparaíso, eu acho. Não... não tenho certeza se ainda morava com a mãe nos últimos dias. Eu perdi o contato quando a vigência da bolsa dele acabou. Trabalhávamos com tradição oral nas tribos paetés...

Sim. Ele sempre quis ser escritor... pelo menos é o que dizia.

Vez ou outra me mostrava uns textos, coisa boba, mas forte. Vibrante. De jovem. Cometia alguns erros de português, mas se o Alquimista faz e vende assim mesmo, não era por isso que eu iria desincentivá-lo, certo? Ele chegou a publicar um texto nesses pasquins de rodoviária. Dessas revistas que vendem por três reais. Elas sobrevivem mais de contrato com anunciantes do que do dinheiro pago pela tiragem. Não, não cheguei a ler o conto do rapaz. Naquela época a universidade estava de cabeça pra baixo, um alvoroço!

Isso. Foi exatamente na época da invasão da reitoria, da deposição do Thomas Holland, pobre coitado. Só era mal assessorado, cercado de mandriões. Pagou o pato. Aliás, pagou a lixeira (risos). Pagou com a credibilidade e a carreira. Dentro da classe docente há bastante gente que o apoia até hoje. Ele era inocente, com toda a certeza.

Sim senhor, exatamente. O Vinícius participou do movimento que invadiu a reitoria. Parece que chegou a edormir lá por lá vários dias. Meus conselhos não adiantaram de nada. E Essa universidade é um pandemônio, o senhor pode perceber. Dão voz a qualquer um, falta um comando. Deu no que deu, veja quem temos hoje aí comandando! (risos)

Qual o interesse mesmo? Sim... compreendo. Eu já imaginava. Soube que ele havia caído do prédio do shopping, mas não sabia que havia a suspeita de crime. E as câmeras, nada? Não funcionavam então? Que absurdo! Mas por que matariam um rapaz tão jovem? Bom, que eu saiba ele não se envolvia com drogas. Mas parece que nos últimos anos ele frequentava o centro acadêmico de geologia. Sim, no bloco B, aqui de frente. Não, não tenho como provar nada, mas há boatos, sabe? São todos vagabundos, eles, os da agronomia, biologia. Péssima influência.

Qualquer novidade o senhor pode me contactar. Isso, Olga Fleury. Éfe érre ê u érre ípsilon. Doutora, sim. Na Sorbonne. Na mesma época do Príncipe dos Sociólogos (risos). FHC, claro!

Professora Dra. Olga Fleury,
Lali. UnB.
Setembro de 2009.

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