01 abril 2009

A PASSARELA



"É necessário saber dissimular com as pessoas que têm vergonha de seus sentimentos; concebem um ódio repentino pela pessoa que as apanha em flagrante delito de ternura, de entusiasmo ou de nobreza como se seu santuário secreto tivesse sido violado.
Se quereis ser-lhes benéfico nesse momento, fazei-as rir ou tratai de lhes sugerir, brincando, alguma fria maldade: seu humor gela e dominan-se.
Mas enfim, a moral é dada sem que eu conte a estória...
Estivemos, certa feita, tão próximos um do outro que nada parecia entravar nossa amizade e entre nós parecia haver somente uma pequena passarela a transpor. Exatamente no momento em que ias repousar o pé, perguntei-te: 'Queres passar a vir ter comigo?', mas nessa altura não quisestes e quando insisti, calaste. Entre nós lançaram-se, a partir de então, montes e rios, tudo que separa e torna estranho um ao outro, de modo que nunca poderíamos nos juntar novamente, inda que desejássemos!
Mas quando hoje sonhas com a pequena passarela que havia, nada encontras pra dizer... só te nascem soluços e aturdimentos."




Texto retirado de A Gaia Ciência, Tópico 16, Livro I, de F. Nietzsche

5 comentários:

Paloma Pinho disse...

Valeu pelo comentário lá no blog!! Acompanha lá, eh muito bom pra gente daqui ler vocês dai. Beijo!

Anônimo disse...

O Texto que você mostrou... Gostei muito.

E quero saber mais do Lázaro, Guille :)

beijo

Tila disse...

Que lindo!
Isso realmente ocorre. Uma simples passarela. Montes e rios depois. Mas ao menos se teve coragem de dizer. Houve a tentativa. Ainda que tenha resultado em negação e distanciamento. O arrependimento é de quem não aceitou.
Vou acompanhar seu blog, Guilherme!
Beijo!

Anônimo disse...

parabensss! texto Foda

may disse...

Eu sei exatamente do que se trata.